quarta-feira, 31 de julho de 2013

DZI CROQUETTES : Espírito Libertário e Invenção Artística

Na época em que nos encontramos atualmente, de muitas manifestações, liberdade de expressão, vontade e sede de mudança, seja qual for o motivo, acho muito válido falar deles, que também foram um grande movimento para sua época...



Foi o encontro de 13 homens, 13 talentos, que surgiu o furacão que abriu portas, abalou as estruturas sexuais das pessoas, quebrou tabus, mudou o teatro Brasileiro e Internacional na década de 70. Surgiu então os DZI CROQUETTES !!!





Tudo começou quando um Americano desembarcou no Rio de Janeiro: Lennie Dale e uniu a Bossa Nova a um swing do jazz novaiorquino.Com isso a contracultura abriu espaço para questionamentos sobre a realidade, a ruptura ideológica e a transformação social.
O grupo revolucionou os palcos cariocas com seus espetáculos andróginos (semelhantes aos do grupo norte americano The Cockettes, famosos pelo visual andrógino e psicodélico). Desobedientes e debochados decidiram desrespeitar a ordem do regime militar com inteligência. Os sapatos de salto alto e as roupas femininas propositalmente exibiam as pernas cabeludas e a barba cultivada pelos homens do grupo. O primeiro show, em 1972, foi um grande sucesso, apesar de ter sido banido pelo Serviço Nacional de Teatro. A comédia de costumes era um deboche ao sistema de ditadura e à realidade brasileira. O grupo também fez muito sucesso na Europa, especialmente na França, onde levou platéias parisienses à loucura.

Eram feitos de carne, assim como croquetes. Foi a partir dessa conclusão que, sentados numa mesa de bar, alguns artistas decidiram nomear o seu recém-criado grupo. A repetição da letra ‘t’ e o ‘Dzi’ (um aportuguesamento espirituoso do artigo da língua inglesa ‘the’) foram inspirados no conjunto norte-americano que citei a cima “The Cockettes”. E assim, com humor e criatividade, uma das maiores manifestações de contracultura da História do Brasil ganhou forma
No momento mais repressivo da ditadura militar que se instalou no Brasil a partir de 1964, os Dzi Croquettes celebravam a alegria, a androginia e a liberdade. Cílios postiços, purpurina, plumas e pernas cabeludas sob saias. Vestidos de mulheres, ou então com trajes minúsculos, os trezes jovens entravam em cena, escandalizando o público e, é claro, os censores.  
Em dezembro de 1968, com a decretação do Ato Institucional nº 5, o regime ditatorial brasileiro se tornou ainda mais fechado. A alternativa à luta armada se dava no campo comportamental com o desbunde e a irreverência. Foi, portanto, no coração de um governo opressor que surgiu um movimento tão ousado do ponto de vista dos costumes. 


Os Dzi Croquettes eram uma mistura entre espírito libertário e invenção artística. Eles foram influenciados por diferentes manifestações culturais, como o teatro de vanguarda, o jazz, a bossa-nova e o movimento gay. Com o passar do tempo, se tornaram influência para outros artistas, inclusive para o teatro de humor que ficou conhecido como besteirol, e se consagrou com programas de televisão como Armação Ilimitada e TV Pirata. Além disso, eles foram a semente para a criação do grupo musical 'As Frenéticas'.
O conjunto montou, em 1972, o espetáculo Gente Computada Igual a Você. Os próprios intérpretes criavam os personagens e figurinos. Dois nomes se destacam na equipe: o ator, cantor e compositor Wagner Ribeiro, e o coreógrafo e bailarino Lennie Dale. Este, adorado pela crítica, trouxe a tradição do profissionalismo da Broadway à música popular brasileira.

“Ele transformou um monte de “mocorongos” em bailarinos profissionais”,afirma um dos antigos membros. 



Além dos dois, o grupo contava com Cláudio Gaya, Cláudio Tovar, Ciro Barcelos, Reginaldo de Poli, Bayard Tonelli, Rogério de Poli, Paulo Bacellar, Benedictus Lacerda, Carlinhos Machado e Eloy Simões.

Wagner e Lennie mudaram o conceito de espetáculo daquela época: os Dzi, como eram chamados, não foram apenas atores ou dançarinos. Os shows alternavam quadros clássicos de clowns, imitações, pole-dancing, tango, bolero e improvisações.

 Em Paris, depois de ter sido censurado, o grupo alcançou a fama inimaginável, em parte pelo apoio da estrela Liza Minnelli.


Além das atividades cênicas, os Dzi Croquettes expressavam irreverência também fora dos palcos. Viviam juntos, formando uma comunidade ou como eles preferiam se chamar, uma família.


Existe um documentário incrível sobre eles e suas histórias! Documentário que conta com depoimentos de amigos e artistas consagrados como:
Ron Lewis, Gilberto Gil, Nelson Motta, Marília Pêra, Ney Matogrosso, Betty Faria, José Possi Neto, Jorge Fernando, Elke Maravilha, Cláudia Raia, Miguel Falabella, Liza Minnelli, Pedro Cardoso, entre ainda os integrantes originais do grupo: Cláudio Tovar, Ciro Barcelos, Bayard Tonelli, Rogério de Poly e Benedito Lacerda.
Dzi Croquettes tornou-se um dos documentários mais premiados do país. Também, não é à toa. Não deixem de assistir, foi um marco muito forte para época, e devemos agradecê-los até hoje por isso!!!



Somente quatro, dentre os trezes Dzi originais, estão vivos. A AIDS, que na época era associada exclusivamente aos homossexuais e por isso chamada de câncer gay, teve um papel decisivo nessas baixas. 
Apesar dos inegáveis avanços em relação ao movimento gay e à luta pela liberdade de expressão, essas bandeiras levantadas pelos Dzi Croquettes permanecem erguidas até hoje. O grupo continua na vanguarda, e faz com que nossa época pareça quase careta diante de tanta irreverência. Não há dúvida de que eles fizeram barulho. Era preciso apenas ouvi-lo.





Nenhum comentário:

Postar um comentário